Nota de abertura

Nota de abertura

Nota de abertura

São imensas as referências etnográficas sobre a Estremadura anterior a 1936. Este é o primeiro volume, de vários, sobre a Etnografia da Alta Estremadura, tema que dificilmente se esgota, tendo em conta que, além da imprensa local do fim do século XIX e início do século XX (quase todos os concelhos tiveram periódicos nesta fase temporal), é possível recolher informação em outros jornais e revistas nacionais, assim como em vários livros, documentos, ilustrações e fotografias, onde os respectivos autores fizeram a descrição dos aspectos sociais, económicos e culturais da antiga Província da Estremadura.

As referências bibliográficas, mais ou menos conhecidas, mais ou menos estudadas, relacionados com a Etnografia da Alta Estremadura, definição que já Alexandre Herculano (1810-1877) referia como a Estremadura Alta, surgem, entre muitos outros, através de autores como Alberto Pimentel (1849-1925), José Leite de Vasconcelos (1858-1941), João Maria Baptista (1810-1876), Inácio de Vilhena Barbosa (1811-1890), Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal (1816-1884), Júlio César Machado (1835-1890), Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado (1835-1908), Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895), Teófilo de Braga (1843-1924), Manuel Vieira Natividade (1860-1918), Raul Brandão (1867-1930), Armando Leça (1891-1977), Pedro Homem de Mello (1904-1984), Ernesto Veiga de Oliveira (1910-1990), Tomaz Ribas (1918-1999) e até mesmo Michael Giacometti (1929-1990) e Rodney Gallop (1901-1948), assim como as cenas do romance português do século XIX, patentes, por exemplo, nas obras As Três Irmãs (1862) e Amor de Perdição (1962) de Camilo Castelo Branco (1825-1890); As Pupilas do Senhor Reitor (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868) e Serões da Província (1870) de Júlio Dinis (1839-1871); O Crime do Padre Amaro (1875), A Cidade e as Serras (1901, póstumo) e A Ilustre Casa de Ramires (1900) de  Eça de Queirós (1845-1900), entre outros...

Faz sentido continuar a defender a Alta Estremadura, defendendo-a como uma verdadeira identidade que o tempo esfumou perante a falta de iniciativas que parecem ter esgotado nos anos noventa do século XX, das quais nasceram, por exemplo, o Centro do Património da Alta Estremadura (CEPAE) e a Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura (AFRL-AE). Após quase duas décadas esgotadas no século XXI, a Alta Estremadura parece desaparecer no meio do nevoeiro de muitas outras procuras que vão aniquilando a identidade que esta Região devia ver regada pela união da promoção cultural, económica e social.

Neste aspecto, não se pode ignorar, bem pelo contrário, o trabalho desenvolvido pelos grupos de folclore, muitas vezes incompreendidos. Sem grandes recursos, vão defendendo a Alta Estremadura através das recolhas que ao longo das últimas décadas vão dando frutos. E, como tal, é fundamental aproximar a estes os historiadores, os musicólogos, os etnógrafos e, entre outros, as autarquias. Estes são fundamentais para a criação da referida identidade. Só consolidando uma identidade, muito própria, se conseguirá atingir os objectivos que muitos apelam, começando pela constituição de um Museu Etnográfico da Alta Estremadura que tanto tem defendido José Travaços Santos, assim como um Centro de Estudos Etnográficos (II Congresso, 1995, 136).

Se não defendermos a união da nossa base identitária, nunca conseguiremos alcançar a identidade como Região, seja ela mais a Norte ou mais a Sul. E, essa base, está na Alta Estremadura...

Este princípio, tendo uma base bibliográfica, poderá servir para suscitar a curiosidade sobre o Folclore e a Etnografia da Estremadura, concretamente da Alta Estremadura, como é identificada nos dias de hoje, que se limita, segundo a opinião de uns, pelas extremidades do Distrito de Leiria e concelho de Ourém (Distrito de Santarém), e pela opinião de outros, apenas faziam parte da Alta Estremadura os concelhos de Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Ourém, Pombal e Porto de Mós, como ficou vincado no 1.º Congresso para o Desenvolvimento de Leiria e Alta Estremadura (1.º Congresso, 1991, 7). Quatro anos mais tarde, o segundo congresso já defendia a Alta Estremadura como sendo o distrito de Leiria e o concelho de Ourém (II Congresso, 1995, 25).

A imensa documentação sobre a história das localidades Estremenhas é a base para se entender e estudar os aspectos sociais, culturais e económicos que fazem o pedestal etnográfico desta região. Contudo, é crucial conhecer a história de cada localidade. É nessa história que se consegue beber a identidade local. Após um breve conhecimento, é possível extrair pequenos aspectos que realçam os usos, os costumes e as tradições da população de uma determinada região.

A definição de Alta Estremadura surge, claramente, para se definir uma região que, não me afastando, se destaca, com algumas diferenças, da região da Estremadura Saloia e da região do Ribatejo, ambas da Província da Estremadura, até 1936.

Contudo, não são as fronteiras das Províncias que colocam os limites dos usos, costumes e tradições das diversas populações. Mesmo dentro da mesma Província, essas diferenças existiam, tendo em conta as regiões mais serranas, interiores, litorais ou urbanas, assim como a movimentação de pessoas, com destaque para Peniche, principal entrada, por mar, da Alta Estremadura, não ignorando todas as localidades com estação de caminho de ferro, com destaque para Valado dos Frades e Pombal. Essa movimentação acontecia, além da ida aos mercados e feiras, com a necessidade de procurar trabalho noutras localidades, como acontecia, por exemplo, no Sul do distrito de Leiria – Caldas da Rainha, Óbidos e Bombarral. Eram muitas as pessoas que desciam geograficamente para trabalharem na poda, na cava e na vindima.

A Alta Estremadura é a verdadeira região, dentro da Província da Estremadura, que tem um abraço tripulo entre a serra, o pinhal e o mar, como estava na base poética do Leiriense Afonso Lopes Vieira (1878-1946): Onde a terra se acaba e o mar começa / a Estremadura está, / com o Verde Pino que em glória floreça, / mosteiros, castelos, tanta pátria ali há!, lembrando o Canto III de Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões (?-1580): Onde a terra se acaba e o mar começa

Mas, o estudo da Etnografia, mesmo que limitado a uma região, como a rica e fértil Alta Estremadura, que vai ligeiramente mais a Norte do que defendia Pedro Homem de Mello, ao falar numa hipotética fronteira etnográfica em Pombal, é sempre uma tarefa árdua, mas saborosa, quando se encontram referências que nos ajudam a entender os usos e costumes dos nossos antepassados que polvilharam com fé e suor as suas tradições, algumas delas existentes até aos dias de hoje, embora, na sua maioria, moldadas a uma modernidade, cada vez mais, acelerada por uma sociedade de consumo:

 

E o barrete do lavrador de Abiul, a sua jaqueta deixando entrever a cinta de lã e, mais ainda do que o fato, o garbo do porte, tornaram-se-me familiares, a mim, homem do Norte, os trajos Ribatejanos. Ora, com a dança, aconteceu o mesmo: o «tacão e bioco» de Pombal explicou-nos o «Fandango» de Benavente, tudo isso numa linguagem clara e autenticada pelo sotaque local. Porque (será preciso lembrá-lo?) o que logo surpreende, ao entrar em Pombal, é a aragem que sopra do Sul...

O «Sapateado» escalabitano, o «Rodopio» e a «Escovinha» do Algarve despontam a cada momento em bailados dos quais citaremos, para já, o «Passa o par», o «Pião» e, principalmente, o «Ferrinfinfim», o que nos leva a atribuir a este concelho uma importância de fronteira. (Mello 1971, 206-207).

 

Tomaz Ribas defendeu, nos seus estudos etnológicos, a união entre a Etnografia e o Folclore, numa base de ajuda mútua, no que diz respeito ao estudo descritivo dos factos, objectos, usos, costumes, tradições, etc..

E, esse estudo, pesquisa que nos pode ajudar na recolha e consequente registo do recolhido, leva-nos por caminhos imensos que, por vezes, a simples recolha oral nos pode confundir.

Este pensar no que fomos e quem somos é uma constante procura, principalmente pela verdade que nos irá obrigar a defender, no futuro, a veracidade fundamental para entendermos as comunidades que povoaram as nossas regiões, neste caso concreto, a Alta Estremadura.

É certo que, só podemos entender uma comunidade, num determinado espaço, se conseguirmos compreender, pesquisando, a abordagem da actividade dessa comunidade no que concerne a uma ligação entre a experiência humana e o seu conhecimento.

Isto é, começar por entender o seu espaço físico, como as casas onde habitaram, os anexos de exploração rural, os espaços de culto como as igrejas, capelas ou ermidas, os cemitérios, os pelourinhos, as fontes e, dentro deste conceito, a forma como tudo era construído e adaptado às diversas comunidades, fossem pequenas aldeias ou grandes vilas.

E, dentro deste conceito de urbanização rural, quase sempre fruto do esforço humano, também a decoração dos edifícios, pessoais ou da comunidade, simples, em muitos casos muito pobre, também ajudam a identificar uma determinada sociedade, como são exemplo o mobiliário, os objectos de uso doméstico, os sistemas rudimentares de iluminação, as alfaias agrícolas, os principais utensílios de trabalho de um povo que, essencialmente, vivia da e na terra.

Mas, a comunidade não era, na sua totalidade, estanque. Embora de forma lenta, as movimentações aconteciam. No início do século XX uma viagem entre Figueiró dos Vinhos e Leiria, ida e volta, demorava cinco dias. É crucial, para se entender a comunidade local, como núcleo inserido na maior abrangência que era a região da Alta Estremadura, saber que tipo de transporte era utilizado e de que forma. Saber se era através dos meios terrestres como a carroça, cavalo ou mesmo a pé. Se era por mar ou rio, através de pequenos barcos ou, ainda, em transporte colectivo, com destaque para o comboio e as linhas do Norte e Oeste.

Todavia, numa época de enormes dificuldades, o transporte, por muito rudimentar que fosse, era fulcral para a movimentação de produtos, com realce para as feiras e mercados que tinham maior destaque nas vilas ou freguesias próximas destas. Na sua maioria aconteciam ao Domingo,  relembrando as Provincianas de Cesário Verde (1855-1886): Tal como existem mercados / Ou feiras, semanalmente / Para comprarmos os gados / Assim ha praças de gente / Pelos domingos calados! (Verde 1887, 100).

As feiras e os mercados eram um local de transição e transacção dos produtos que se produziam, tanto na terra como nos ofícios, fossem eles artesanais ou já industrializados.

Os ofícios sempre foram aliados à agricultura. O artesão e o agricultor, na zona marítima o artesão e o pescador, embora, muitas vezes, o pescador fosse agricultor, eram fortes aliados. Em quase todas as freguesias, com a excepção de pequenas aldeias, existiam os ofícios da tecelagem, da cerâmica, da olaria, da moagem, da cestaria e em alguns lugares das rendas, dos bordados, dos lacticínios e mesmo do fogo de artifício. E, cúmplice a todos estes ofícios, entre outros, surgia a actividade agrícola ou piscatória, o cultivo do milho, trigo, centeio, linho, vinho, azeite, pesca, etc.. Sendo que, no caso da agricultura, a imaginação humana tinha de encontrar, por exemplo, soluções para a debulha, a rega ou a arte de construir as redes para o caso da pesca.

No meio deste processo relacionado com a economia local, através do artesão, do agricultor ou do pescador, existiam, ainda, em algumas localidades, as artes relacionadas com os trabalhos em madeira, por vezes em chifre e osso, em cortiça, em ferro, em papel e a ourivesaria popular, sem esquecer a arte pastoril.

Complementando todas estas actividades, havia, ainda, a caça, o pastoreio e o já referido comércio em feiras e mercados.

Contudo, a comunidade ia mais além do que a questão económica. Existiam os costumes sociais que estavam bem patentes em questões relacionadas com o nascimento, o namoro, o casamento, o luto e respectivos ritos.

Dentro da área social, existiam as classes sociais e profissionais: o abastado, o dono, o patrão e o trabalhador, o empregado...

Todavia, são os usos e os costumes que melhor identificam uma comunidade. E, dentro dos costumes e tradições surgem as Janeiras, o Carnaval, a Encomendação das Almas, o Dia de Ramos, a Serração da Velha, a Páscoa, o dia de São José, a Ascensão, o Pentecostes, os Santos Populares, o dia de Todos os Santos, o dia de Finados, o São Martinho, o Natal e, entre outras festividades, a passagem de ano.

Todos estes usos, costumes e tradições, entre muitos outros, mais vincados nuns lugares que noutros, tinham rituais muito próprios que de região para região poderiam mudar ligeiramente, mas o conceito era igual.

Muitas vezes, associada a estas tradições, estava a crença popular, como os santos ou oragos venerados pela população e respectivos objectos de oração, juntando as orações, as romarias e as festas. Agremiado a esta crença, assomavam as superstições e, por vezes, as práticas mágicas, com o uso de amuletos.

Se por um lado o trabalho, o envolvimento social e religioso faziam parte do viver de uma determinada comunidade, por outro, a cultura do povo era extremamente rica e simbólica.

Exemplo dessa cultura é a poesia popular, especialmente quadras, o romanceiro, os contos, os mitos, as lendas, as adivinhas, os provérbios, os pregões, as fórmulas, as alcunhas e o vocabulário local.

Com a rima despontava a música e, consequentemente, a dança. Por isso, uma das maiores pesquisas, quando se pretende entender uma determinada comunidade, no presente caso do fim do século XIX e início do XX, é a música que o povo fazia através dos instrumentos musicais que, objectivamente, levava à dança popular. Além da dança, existia o teatro popular, muitas vezes improvisado, as diversões como os jogos, as brincadeiras infantis e, em alguns lugares, as touradas e cavalhadas.

Entender a população de uma comunidade estabelecida socialmente é saber, também, o tipo de alimentação que tinha através da gastronomia, da doçaria, tanto em casa ou no trabalho, assim como nas cerimónias e nas festas. Na área da saúde, era a ciência popular que imperava, através do ensinamento de geração para geração que, em muitas ocasiões, levava a práticas mágicas.

Contudo, entre muitos outras aspectos não referidos, que davam para temas a explorar num possível estudo relacionado com a Etnologia, era a forma de vestir (trajar) que permite identificar a que comunidade cada indivíduo pertencia:

 

Os trajes das mulheres serranas resentem-se do aspecto montanhoso da região em que vivem. Não são pittorescos nem garridos. Em Leiria principia a apparecer nas saias uma barra encarnada, e d’ahi para cima, avançando sobre o norte, o vestido feminino começa a tingir-se de cores vivas, que são o reflexo de uma paizagem mais luminosa e ridente. (Pimentel 1908, II, 423-424).

(...)

A mulher dos arredores do Liz veste saia bastante rodada, ordinariamente escura, mas sempre com uma barra de cores vivas, e geralmente larga. Usa o classico jaléquinho ou casabeque, aberto ao peito, para fazer logar ao ouro – grupos de cordões terminando n’uma cruz ou na imagem de Nossa Senhora – que gosta de exhibir nas feiras ou nas festas. (Pimentel 1908, II, 462-463).

(...)

Os homens, quando se endomingam, vestem o jaleco, a calça e o collete extremenhos, de belbutina, brim ou cheviote barato e escuro. Na cabeça usam barrete, ordinariamente preto, ou chapéo desabado. Trazem cinta ou faixa de cores vistosas ; sapatos ou botas pretas, mas o calçado dos mais pimpões não dispensa pespontos a linha branca e outros lavores. (Pimentel 1908, II, 463).

 

Na Alta Estremadura, actualmente constituída por 16 concelhos do distrito de Leiria e o concelho de Ourém, distrito de Santarém (fazia sentido outros concelhos constarem na Alta Estremadura), existem diferenças de povoado para povoado, mas são muitas mais as semelhanças que unem a região.

Peniche, porta marítima da Alta Estremadura, recebeu muitas influências, tanto do Sul, principalmente Algarve, como do Norte, com destaque para Vila do Conde.  Peniche era a terra da pesca, das rendas de bilros, dos círios, da apanha do limo e até da caça dos ovos de gaivota: A villa de Peniche assenta, na costa da Extremadura, sobre uma peninsula... (Pimentel 1908, II, 331).

Óbidos, que incluía o actual concelho do Bombarral, era o concelho das quintas, das vinhas, da fruta, dos círios e da lagoa: Tudo o que fica extra-muralhas é pittoresco, e algumas vezes bello, no conjunto panoramico tanto do aspecto da povoação como dos arredores (Pimentel 1908, II, 343).

Caldas da Rainha, com várias quintas, era a localidade da vida termal que recebia muitos fregueses oriundos da Estremadura Saloia: A villa das Caldas da Rainha é uma das mais conhecidas e interessantes da provincia da Extremadura (Pimentel 1908, II, 377).

Alcobaça era o concelho das fábricas de fiação, tecidos e louça, não esquecendo a produção de fruta, arroz e criação de gado vacum: Do Vallado para Alcobaça ha deligencias, a tostão por pessoa (Pimentel 1908, II, 389).

A Pederneira (Nazaré), já muito identificada com o Sítio e a Praia, era um concelho de pescadores e de uma enorme religiosidade, principalmente com os Círios: A villa da Pederneira é honorariamente a cabeça do concelho, mas a vida administrativa do municipio funcciona em outro lugar (Pimentel 1908, II, 413).

Porto de Mós, concelho mais serrano, além dos Círios, tinha as pedreiras e a produção de telha, curtumes, azeite, fruta e peixe no rio Lena: Na falda occidental da serra de Ayre está recostada a villa de Porto de Mós, que dá o nome a esta estação da mesma serra (Pimentel 1908, II, 423).

Batalha, que nasceu em redor do seu Mosteiro, também usufruía da água limpa do rio Lena. Além das fábricas de destilação e produção de vinho, tinha os canteiros: A villa da Batalha, cabeça de um pequeno concelho de 7.000 habitantes, deve a sua origem ao soberbo monumento religioso que notavelmente a glorifica (Pimentel 1908, II, 431).

O concelho de Leiria, do qual fazia parte o actual concelho da Marinha Grande, era conhecido pela sua fértil agricultura, pelos arrozais, pelo rio Lis e principalmente pelo Pinhal. No caso da Marinha Grande, esta então freguesia beneficiava da proximidade com o pinhal que lhe permitiu ter fábricas de resina, fábricas de vidro e diversos resineiros: Na Estremadura é notável o pinhal chamado de Leiria, onde dominam pinheiros bravos (Vasconcelos 1995, II, 68). O concelho de Leiria tinha, também, forte influência na pesca, nas praias do Pedrógão e Vieira: Leiria tem, è certo, um acrescimo de vida aos domingos por causa do mercado semanal (Pimentel 1908, II, 450).

Pombal, além do azeite e dos arrozais, era o concelho do Bodo, tanto na então Vila como em algumas freguesias: Se é domingo ou dia santo offerece-nos, de manhã, o espectaculo do mercado, que passa como n’um kaleidoscopio, deixando-nos agradavel impressão o colorido forte dos lenços das mulheres (Pimentel 1908, II, 475).

O concelho de Ansião, além dos cerais e azeite, era conhecido pelas fábricas de barretes, xailes e fazendas de lã: E’ um dos concelhos do districto de Leiria chamados «da serra», região montanhosa que vai de Pombal a Pedrógam Grande (Pimentel 1908, II, 489).

Alvaiázere, também falado pelo azeite, era um concelho conhecido a Norte pelas árvores de fruto como cerejeiras, pessegueiros e macieiras: As mulheres calçam chinellas grosseiras, e os homens usam de botas muito notaveis pela grande pregadura, que lhes atravessava as solas de lado a lado (Pimentel 1908, II, 500).

Figueiró dos Vinhos era um dos concelhos dos lanifícios, assim como das minas de ferro e dos curtumes. Produzia bom azeite e madeira. Tinha muitos castanheiros e carvalhos: – as pobres principalmente – usam murça e capuz. Mas, em geral, as cores do vestuario são vivas e garridas (Pimentel 1908, II, 509).

O concelho de Pedrógão Grande, que incluía o actual concelho de Castanheira de Pêra, também era popular pela produção de madeira, caça, pesca e, especialmente, pelas fábricas de tecido e fiação: Dizia antigamente certa pessoa distincta que a villa de Pedrógam Grande era um paraíso (Pimentel 1908, II, 515).

Ourém, concelho do distrito de Santarém, tinha excelente vinho, azeite e fruta. Contudo, a produção de madeira era-lhe muito reconhecida: A villa velha pousa no alto de um monte de difficil accesso (Pimentel 1908, I, 399).

 

Adélio Amaro

Presidente da AFRL-AE

(2004-2005 / 2018-2019)